sexta-feira, 14 de maio de 2010

Tragadas e solas gastas

Em tristes tardes de sexta ele se torturava com álcool e cannabis. Fugia ao tédio mortal do cotidiano mórbido e se entregava ao deleite solitário de sua alma. Transas caóticas e devaneios de amores inexistentes, era um astro torpe, espécie único em um mundo de poucas mentes.

Cambaleando pelas esquinas e comprando cigarro solto em bares incomuns,se dirigia a um lugar comum, onde residia a única bunda que lhe dava alegria. E ela gostava, dos sussurros depravados ao ouvido, dos tapas, da mordaça. Gostava do jeito que ele a pegava com força, por trás, todo fim de tarde. Ela comungava em cada beijo molhado e estremecia, em cada lambida voraz em sua vagina luxuriosa. Estava sozinha e triste. Ele era seu único porto seguro.

Antes do relógio bater meia noite ele retorna, enrolando baseados e pensando, como seria bom se o céu transmutasse em uma massa celeste densa e cobrisse com seu silêncio toda a crosta da terra. Pensava em morte e poesias sujas. Sem rumo após três tragadas profundas.

Conhaque. Ducha fria e cama.

Na manhã fria de sábado se vangloria da trepada vigorosa e sofre, por não ter a quem dividir seu coração vagabundo. Chora silenciosamente enquanto rabisca com mãos trêmulas algumas palavras de caos e desordem. Olha no espelho o rosto barbado e pensa como as coisas poderiam ser diferentes. Acende a ponta e se deita, deixando a fumaça inundar o quarto enquanto sua mente vagueia por labirintos escuros, repletos de fugiras disformes. Levanta. Trago longo em uma cerveja quente e recomeça, ritualisticamente, os preparativos para uma caminhada em direção a lugar nenhum e sem horas para terminar.

Avança pela rua, lugar ambíguo, desconhecido e comum. Adentra a cidade pulsante e só espera que no dia seguinte, acorde sem arrependimentos.

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