Mística-Absurda

Tem dias que o ar ácido corroe as narinas dilatadas, corpos sem rostos perseguem, entre ruas de asfalto sangrento, um contrato de alegria e lampejos de vidas mal vividas. Morrer a cada manhã e renascer ao entardecer. Entre bombas de gás e explosões atômicas sem direção, me jogo, sob o ataque de vírus sociais-bestiais, no mar arenoso onde tantos homens de corações psicodélicos deram braçadas em direção a um lugar comum. Sem leito, afeto ou torturas. Onde milhares de pessoas em um transe efêmero me distraem com olhares compadecidos, tristes e cansativos. Querendo saber que maldito anjo é aquele que rouba bebidas irrompendo madrugadas e se cala, frente a confusão dolorida de vozes caóticas de mulheres pálidas e garotos libidinosos que insistem em falar de amor frente a uma mistura mística-absurda de sal, alegria, limão, tristeza e tequila. Que conforta mais do que qualquer colo humano. De dentro da clausura de carne e ossos, um suspiro forçado por um pulmão já cansado é o mesmo canto que ecoa nas mentes descontentes e nas vozes inaudíveis que sibilam entre as bocarras malditas de irmãos e irmãs de solidão, que sem perceber que toda glória e venturas foram forjadas para lhe serem entregues como brindes imaculados de um tempo sem data, se entregam a ilusões baratas em uma torrente de energia sem significado, ao sexo sem cor com mendigos leprosos e cadavéricos que lambem feridas gosmentas dia após dias. Sobrevivemos, com trêmulas mãos que tateiam em busca de um cigarro, descarregando poemas no chão de inúmeras cidades de ruas sujas e apaixonantes em busca por um contato com o transcendente. Sublimação de mentes arruinadas.



(texto escrito em meados de 2008 após uma noite na rua Augusta)