sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Sábado-ressaca-sede-mania

Passadas pargas pela noite paulistana, vadias ébrias e cafetões com hálito de serpente. Confusão é a ordem e o murmúrio coletivo tornam a massa humana um só corpo, um ego gigantesco e devorador ao qual me fusiono.

"Não há mesas vagas no Sallon"

No tilintar dos copos e nos ecos das gargalhadas sádicas se resumi o mundo, particular e até egoista, porém saboroso e tentador. A navalha rente a garganta e hábeis mãos trabalham em malabarismo de bitucas acessas.

As señoritas vageam com cabelos coloridos e lindos pés pela passarela de asfalto e, intoxicadas por monóxido de carbono, se deliciam em doses de tequila como se fossem anjos depravados desvendando o segredo dos homens virtuosos. Um excitante ritual de embriaguez sob a vigilância constante dos farois dos carros.

"Mais um tranco diablitos"

E acendam seus cigarros e sentem-se para o espetáculo, pois o centro de São Paulo é palco das mais sórdidas operetas e danças desritmadas, um balé sacro-profano de corpos nus e perversas loiras de minisaia. É noite e os cães estão à espreita. Mendingos poetas com olhares alucinados e ninfas cibernéticas com rostos alvos e de uma beleza singular formam um quadro apocalíptico onde meu próprio self se integra em uma onda constante, em um movimento disforme que percorre, de bar em bar, as lacunas deixadas pela sociedade, onde brotam, em uma sublimação estrondosa, as inúmeras angustia e desnudam a fragilidade humana. Deixando para a manhã seguinte o gosto amargo da ressaca contínua e um pensamento agudo e retilíneo que insisti em soprar em minha mente palavras desconexas e inquietantes que inflam a vontade e me faz sussurar sozinho:

"EU QUERO MAIS".

(01/05/10)

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